quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sede de Sangue.

Filme de vampiro que se preze tem que ter sangue. Não uma cachoeira trash e tão pouco somente umas gotinhas tímidas escorrendo no canto da boca do predador. Tem que ter aquela quantidade certa que torna o vampiro repulsivo e magnetizante, afinal, quem não sente medo de um humano sobrenatural sanguessuga e, ao mesmo tempo, consegue não ficar hipnotizado para um vermelho vibrante? No caso do filme do diretor e co-roteirista Chan-wook Park (o mesmo de Oldboy), o vermelho sanguíneo é utilizado na medida certa para colorir os cenários pálidos do início da história e contrastar com o fundo branco recorrente e o figurino em tons de preto e azul dos protagonistas_ destaque para os belos tons de azul dos vestidos de Tae-joo, personagem da atriz Ok-vin Kim_ no terço final.

Sang-hyeon (vivido por Kang-ho Song) é um padre coreano que trabalha junto a um hospital, orientando espiritualmente aqueles à beira da morte e seus parentes. Sang-hyeon, além de atuar nesta fronteira entre a vida e a morte, transita numa outra fronteira ainda mais complexa: aquele deserto sem lar que separa a ciência da religião. Sang-hyeon acredita que a ciência está a serviço de Deus e que seu rebanho deve rezar e tomar todos os remédios prescritos. O padre acredita na fé, mas não acredita em milagres. Diante dessa contradição, numa decisão auto-flagelativa, se oferece de cobaia a um experimento que busca a cura de uma doença infecciosa e, durante o processo, acaba virando vampiro.

Bem, quem gosta de vampiros sabe que o sangue vampirizante não tem uma explicação lógica, uma origem conhecida ou uma referência estritamente sobrenatural. Diz-se que a Porfiria, uma doença sanguínea rara, estaria por trás da lenda vampiresca. Especulações draculescas à parte, o sangue do vampiro tem o poder de transformar outros humanos em vampiros. Aliás, ser vampiro é uma condição de deixar de ser humano? Questão sempre presente nesses filmes, nunca respondida. Uma criatura que vive nas sombras, bebendo sangue pra “viver”encontra-se também numa fronteira entre vida e morte. E o padre segue seu martírio... Angustiado e cheio de culpa por ter desenvolvido seus instintos e aguçado seus desejos acaba, naturalmente, se apaixonando por Tae-joo_ jovem de fragilidade duvidosa. O padre perdido do seu rebanho se depara com um lobo em pele de cordeiro e se entrega.

Na forma realista e orgânica de tratar a sexualidade e a exposição das entranhas, “Sede de Sangue” lembra muito o longa “Deixa ela entrar”, embora o filme sueco tenha todo um jeito de obra de arte cinematográfica. A sonoplastia faz tudo parecer muito suculento, se é que me entendem.... A saga de contradições do padre-vampiro tem um conteúdo dramático e filosófico muito bom, belas cenas do típico tesão-reprimido-oriental que fazem o expectador querer estar em outro lugar e sequências que misturam um quê de macabro e humor negro que agrada em cheio os amantes desses conteúdos. Aliás, como bom filme de vampiro, segue-se uma história de amor e, por este sentimento, mata-se e morre-se.

Filme ótimo para os que se deliciam com uma obra vampiresca realista de amor-terror e não muito indicado para aqueles mais sensíveis, adeptos dos filmes de sessão da tarde.

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