quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tron: O Legado





Como típico filme produzido pela Disney, Tron O Legado (Tron Legacy no original), é um filme para toda família, com direito a versão 3D, que, aliás, cabe bem a esse gênero de filme, embora neste as cenas não tenham sido elaboradas para explorar tanto esse recurso. Tron é visualmente empolgante, deixando bem claro a diferença entre a computação gráfica de hoje e os recursos de efeitos visuais (na época, uma inovação) do anterior Tron Uma Odisséia Eletrônica (1982) do diretor Steven Lieberg

Por ter sido feito para atingir um público variado, o roteiro não aprofunda as discussões tecnológicas (uma pena), investindo mais na relação pai Kevin Flynn (Jeff Bridges) e filho Sam Flynn (Garrett Hedlund) , estruturada a partir da separação de ambos e do reencontro no universo da rede de computadores. Kevin Flynn é o diretor da Encom International (uma multinacional de softwares) e fica mais de 20 anos desaparecido depois de desenvolver uma tecnologia capaz de introduzí-lo no sistema de computadores através de um portal, abrindo uma conexão entre o mundo real e o sistema de computadores de sua empresa. No universo dos computadores, Kevin cria Clu 2.0, um clone de si mesmo para fazer o programa Tron, de Alan Bradley (Bruce Boxleitner), desenvolver a rede. 



Clu 2.0, representando todo o seu “lado mal”, exerce seu papel de liderar uma “sociedade” dentro do sistema, de forma ditatorial, com o objetivo de reabrir o portal que comunica o mundo real e o sistema, para que este domine o mundo dos usuários. Clu 2.0 deseja declarar guerra à humanidade. Kevin, que detém a chave capaz de abrir o portal, mantém-se durante todos esses anos foragido, vivendo como um monge meditando e aguardando o caos, a virada, a oportunidade de acabar com as pretensões de Clu 2.0. Quorra (Olivia Wilde, a 13 de House MD), companheira de Kevin, representa os programas ISO que surgiram naturalmente no sistema, sem terem sido programados. Sendo a última naive sobrevivente, ela é a esperança de mudar o mundo real junto com seu filho Sam, segundo as palavras do próprio Kevin. 

Partindo de um objetivo inicial dito nobre, Kevin acreditava que poderia ser Deus e recriar o mundo real de maneira perfeita a partir do universo criado por ele na rede de computadores. O problema é que objetivos megalomaníacos, como esse, podem até ser aparentemente bem-intencionados, mas acabam cedendo aos inevitáveis chamados do desejo de poder. Suas pretensões de criar um mundo perfeito, à imagem e semelhança de seu sistema, parecem mais uma forma de privar a humanidade de sua liberdade (como em qualquer ditadura) do que de gerar benefícios para ela. Estreia: 17 de dezembro.

Tron - O Legado (Tron - Legacy) - 125 min
EUA - 2010
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Edward Kitsis, Adam Horowitz
Com: Jeff Bridges, Garrett Hedlund, Bruce Boxleitner, Olivia Wilde, James Frain, Beau Garrett, Michael Sheen 


Este texto também foi publicado no Cinema na Rede! 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Amor por Acaso



Em sua estreia como diretor de longa-metragens, Márcio Garcia ficou à vontade para abusar dos clichês. Decidindo juntar o formato comédia romântica americano com personagens caricaturais que forçam o riso, no melhor estilo Zorra Total, o diretor não conseguiu produzir um resultado interessante. A história de Amor por Acaso (Bed and Breakfast no original) gira em torno da disputa de posse de uma propriedade na Califórnia (EUA), entre o americano Jake - o Superman Dean Cain - e a brasileira Ana - Juliana Paes, de A Casa da Mãe Joana (2008). Jake recebe a propriedade de herança de uma velha amiga e Ana, a parente mais próxima da dona falecida, tem direito sobre o imóvel. 

As justificativas que levam Ana à Califórnia não dão peso dramático e acabam dispensáveis à história, já que qualquer pessoa que recebesse uma propriedade de herança iria ao local para ficar ou providenciar a venda do imóvel. Jake é o clássico cara-bacana que tem amor pelo lugar que transformou numa pousada para ganhar a vida, naquela região rodeada de vinhedos. O ator dá conta do seu personagem e consegue nos fazer esquecer que ele já foi o Clark Kent. Juliana Paes é Juliana Paes a maior parte do tempo e a decisão de fazê-la falar inglês com uma entonação parecida com a dos americanos tornou sua atuação artificial.


Voltando ao nosso mais novo diretor, Márcio Garcia pecou pelo excesso ao mostrar as curvas de Juliana Paes incessantemente, como se dirigir um filme fosse um ato de voyeurismo vulgar, chegando ao cúmulo de fazer um cena em que Juliana sobe uma escadinha, no melhor estilo Zorra Total. Os demais personagens que compõem a parte cômica da história têm tanta graça quanto aqueles personagens do programa de TV que citei e a história se arrasta para um clímax previsível e não empolgante.  

Márcio Garcia, da próxima vez, poderia pelo menos utilizar melhor os clichês, como aquele clima irresistível que uma boa comédia romântica tem, que, mesmo previsível, comove e te segura na poltrona, além de um humor mais malandro e debochado, que os brasileiros sabem bem fazer. Ah, é bom também alguém dizer para ele que todos nós já conhecemos os atributos físicos da Juliana Paes e que vender a mulher brasileira como um objeto sexual para o mundo é algo que já deveria ter sido superado. Estreia: 10 de dezembro.

Amor por Acaso (Bed and Breakfast) - 80 min
Brasil, EUA - 2010
Direção: Márcio Garcia
Roteiro: Leland Douglas
Com: Juliana Paes, Dean Cain, Eric Roberts, John Savage, Kimberly Quinn, Julia Duffy  

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O Louco Amor de Yves Saint Laurent



Julgamos loucura aquilo que não entendemos. Julgamos loucos aqueles que se diferenciam de tal forma dos padrões da sociedade, a ponto de não ser mais possível classificá-los em nenhum padrão. Alguns loucos talentosos e influentes até são aceitos, outros são relegados ao esquecimento, ao desdém. Yves Saint Laurent não se enquadra em nenhuma dessas categorias, porque não era louco. Como disse bem  Pierre Bergé, seu companheiro por 50 anos, Laurent, como artista genial que era, enxergava a sociedade sem se sentir pertencendo a ela. O estilista era um espectador atento e crítico. Por outro lado, Laurent parecia tão oprimido pelo contexto que o cercava, como parecia encantado com suas criações estilísticas produzidas numa escala que beirava a compulsividade. Ele criava como se quisesse se aliviar de alguma angústia.
Em certo momento do documentário dirigido por Pierre Thoretton, Laurent diz que lamenta não ter vivido sua juventude como ela deve ser: livre,  irresponsável e ingênua. Isso porque ele assumiu, em 1957, aos 21 anos, o lugar de Christian Dior, tornando-se uma referência instantânea da moda mundial, dedicando, assim, sua vida a esse trabalho.  E para aqueles que costumam dizer que não entendem nada de moda, eu me solidarizo. Creio que enxergamos a moda como um mercado fútil de venda de roupa cara. Na verdade, também é. Mas fica claro, nos poucos momentos em que o próprio Laurent se expressa no documentário, que as roupas, para ele, são como os quadros para Monet. E a maneira como Laurent transformava tudo que estava ao seu redor em arte de vestir é de fato admirável.
É uma pena que a sensibilidade do artista ganhe um tom melancólico durante todo o filme, reafirmando mais sua depressão que seu talento, julgando mais seu temperamento que compreendendo sua forma de olhar o mundo.  Laurent criticava seu meio social como um lugar sufocante para quem produzia alta-costura e por quem era sempre demandado originalidade e desenvoltura geniais. As várias tomadas que mostram suas casas e seus muitos objetos de decoração (que ele preferia, em lugar de pessoas) se mostraram de um certo mau gosto, dando ao documentário a impressão de ser um vídeo imobiliário. Aliás,  Pierre Bergé complementa essa impressão, sendo retratado como o apoio profissional e a pessoa encarregada de dar conta dos negócios, parecendo aliviado durante o polêmico processo de leilão das obras de arte do casal após a morte de Laurent. Estreia: 03 de dezembro.

O Louco Amor de Yves Saint Laurent (Pierre Bergé, L'amour Fou) - 104 min
França - 2010 
Direção: Pierre Thoretton

 
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