quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Sonhos roubados"

Noutro dia conversava com um amigo a respeito da situação do cinema nacional, a quantidade insuficiente de salas exibindo os filmes brasileiros e a resistência do público a ir ao cinema assistir um filme nacional.

Refletindo sobre as razões desse panorama, fiquei imaginando o que leva as pessoas a uma sala de cinema. Acredito que uma parcela grande do público que vai ao cinema, busca entretenimento, aquele faz-de-conta de 2h onde se pode ser um policial durão, um aventureiro, uma pessoa apaixonada, um vilão caricato, um mocinho meloso... Pode-se viver paixões, amores rasgados, medos, angústias, pode-se voar, chorar, rir, estar no presente, no passado ou no futuro sem sair do lugar, sem consequências. E assim que as luzes da sala acendem, pode-se despir aqueles personagens e seguir a vida carregando um pouco daquelas vivências imaginárias consigo. Diante disso, consigo compreender as pessoas que não pagam ingresso (caro, aliás) para assistir o mesmo que se vê todos os dias no noticiário: violência, tráfico, tiros, tensão... Sem querer desmerecer os filmes que ajudaram a revitalizar o cinema brasileiro, pois alguns são de uma qualidade inquestionável_ como o “Cidade de Deus” por exemplo_ embora tragam uma crueza real e indigesta que as pessoas tem o direito de não escolher como entretenimento. Esses filmes representam uma abordagem necessária da realidade social do Brasil sim, mas hoje o filme “Sonhos roubados” me confirmou que existem outras formas de se falar de realidade.

A história guiada pela diretora Sandra Werneck (Cazuza-O tempo não pará) retrata a vida de três adolescentes (Jéssica, Daiane e Sabrina) da periferia do Rio de Janeiro que, por circunstâncias diversas, acabam se envolvendo com prostituição. O filme fala sobre isso não de um jeito banal e se preocupa em oferecer o pano de fundo que conduz essas meninas a vender sua intimidade em troca de dinheiro para pagar conta, sustentar filho ou até mesmo comer. Naquele ambiente falta tudo, menos a capacidade dessas meninas de sonhar. Fala-se de assuntos densos, incômodos, mas com uma delicadeza feminina que faz toda a diferença. Mesmo inseridas numa cultura que banaliza o sexo_ em especial o movimento do funk_, sem perspectivas, sem estrutura familiar, educacional ou de saúde etc, Jéssica, Daiane e Sabrina encontram na amizade entre elas um apoio para preservar a esperança por dias melhores no futuro. Tudo na vida delas é difícil, mas elas não nos inspiram pena, elas nos cativam com suas trajetórias humanas, demasiado humanas.

Talvez, temas como os tratados em “Sonhos Roubados' devessem receber sempre esse toque de delicadeza para que se possa conseguir um equilíbrio entre crítica social e arte cinematográfica. Ganha o filme em audiência e qualidade, ganha o espectador em cinema e entretenimento.


*Estréia 23 de Abril de 2010.


Trailer:



Para ouvir essa música maravilhosa na íntegra (ótimo uso da batida do funk):



Para baixar:
http://www.4shared.com/file/256131614/ff98f432/Maria_Gad_-_Sonhos_Roubados__T.html

2 comentários:

  1. Acho que conheço esse amigo rsrsrs

    Realmente 'Sonhos Roubados' é um filme diferenciado, que evidencia qualidade do cinema nacional.

    E a música é linda demais !!!!

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