sexta-feira, 30 de abril de 2010

A grade festa.

Pessoa suspeita pra falar... Eu sou incondicionalmente apaixonada pela comida italiana. Não só pelos sabores do azeite, do manjericão, dos molhos, das massas... Mas também por toda a cultura e as simbologias que essa comida representa. Não é à toa que não estou usando o termo “culinária” e sim comida, porque italiano aplica paixão e delicadeza combinadas para modelar as massas, temperar os molhos, mantendo um contato orgânico constante com os alimentos que prepara_ amo isso! Uma sofisticação caseira de quem está preparando comida para sua amada família. Daí se fazem refeições generosas, saborosas e calorosas. Eu me sinto acolhida e feliz debruçada sobre um prato de comida italiana numa cantina típica.

No filme “A grande noite”, dois irmãos italianos emigram para os EUA buscando uma oportunidade de prosperar fazendo o que eles sabem fazer de melhor: comida! Mas, o restaurante deles em Nova Iorque não vai muito bem. Com um cardápio e um ambiente seguindo as tradições italianas, o lugar não atraia a clientela americana interessada em pratos mais adaptados aos hábitos alimentares locais. Isso fica evidente logo no início do filme no embate entre uma cliente insatisfeita com um risoto e Primo (Tony Shalhoub) o chef de cozinha. Dotado de talento para preparar uma típica e deliciosa comida italiana, Primo se recusa a se curvar aos hábitos americanos, considerando sua arte uma forma de “educar” seus clientes na apreciação da verdadeira cucina italiana, deixando claro seu desprezo pelos hot dogs. Por outro lado, seu irmão Secondo (Stanley Tucci), seduzido pelos valores locais e desejando enriquecer, tenta convencer Primo a se adaptar. A relação dos irmãos, embora muito conflituosa, é extremamente amorosa e indissolúvel, como toda família deve ser. Entre problemas e panelas, o filme segue delicioso...

Ao contrário do longa dinamarquês “A festa de Babette” (frio e monótono), “A grande noite” é um filme que nos seduz desde o inicio, o que me fez lembrar daquela cena de “O Poderoso Chefão 3” (Francis Ford Copolla) em que os apaixonados personagens de Sofia Copolla e Andy Garcia preparam nhoque juntos com uma sensualidade sutil, conferindo às relações humanas daquela história um ar familiar e saboroso em contraste com a violência da máfia. “A grande noite” dos diretores Campbell Scott e Stanley Tucci passeia pelas tradições americana e italiana, fazendo contrapontos a todo momento, ao mesmo tempo em que demonstram a riqueza da interação entre as duas culturas. Destaque para o extravagante e ambíguo Pascal (Ian Holm) que nos presentei com as cenas mais cômicas do longa, Bob (Campbell Scott) um vendedor de carro cara de pau e a sempre molto bella Isabella Rossellini.

O único problema desse filme é o espectador não poder participar do banquete servido na grande festa que tem por intenção livrar o restaurante da falência, mas que acaba mesmo é nos deixando com água na boca. Recomendo assistir ao filme e partir logo depois para a cantina italiana mais próxima.


*Esse filme foi exibido hoje na Casa da Ciência-UFRJ, fazendo parte da programação do Colóquio Educação, Alimentação e Cultura promovido pela instituição. http://www.nutes.ufrj.br/coloquio/

2 comentários:

  1. Resenha emocionada e muito linda. Fiquei imaginando sua carinha vendo o filme. :D

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  2. Quando for a Sampa, quero visitar umas cantinas! ;D

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