terça-feira, 30 de março de 2010

eu uso ó-cu-loooos!

Esse fim de semana eu assisti ao documentário “Herbert de perto”. Embora conheça e goste da maioria das músicas dos Paralamas do Sucesso, não conhecia bem a trajetória do grupo. Na verdade, nunca procurei saber muito também. Meu conhecimento de cultura musical é muito mais restrito que meu conhecimento sobre cinema que já nem é isso tudo. Além disso, tenho um gosto particular por redescobrir ou destrinchar aquilo que parece já esclarecido. Acredito que em tudo na vida há sempre o que desvendar. Detalhes e idiossincrasias me interessam...

O documentário, embora o título sugira, não fala só do Herbert. Ele funciona como eixo para uma viagem na trajetória da banda e para retratar um pouco a história do Rock nacional_ as fotos deles com a galera do Legião em Brasília são emocionantes. Mas Herbert Viana está lá o tempo todo, mostrando que Clark Kent não precisa tirar os óculos para ser Super-homem. Aliás, foi com a música “Óculos” que a banda decolou, com uma letra que mostra como podemos fazer de um incômodo um sucesso. Herbert resolveu transformar sua falta de jeito em conquistar as meninas em música. Eu o entendo, também uso óculos e devo testemunhar que as pessoas nos veem de forma diferente. Com óculos, ganhamos um ar intelectual-nerd, o que faz pensar que somos inteligentes-chatos e isso não é sexy. Aliás, um recurso recorrente no cinema e na televisão é a pessoa aparecer de óculos para “enfeiá-la” e depois se livrar deles, ficando atraente. Juro, não é piada de filme do Super-homem! As pessoas não reconhecem a gente sem óculos!

Mas, voltando ao documentário... É a partir desse sucesso que a banda deslancha e Herbert deixa pra trás o sonho de ser piloto da aeronáutica, já anteriormente negado pelos problemas de visão do cantor. Os Paralamas, então, emendam um sucesso atrás do outro e Herbert se vê numa situação financeira que o permite pilotar de forma amadora. E o sonho negado na juventude acaba sendo o meio dele tragicamente perder a mulher e ficar com graves sequelas após o acidente de avião há alguns anos atrás. Fiquei pensando muito sobre isso. Ele deu uma volta imensa na vida para voltar ao ponto original: a aviação, o sonho de menino. E o sonho se transformou em pesadelo num instante. Por outro lado, se ele não tivesse aprendido a voar, é provável que passasse a vida frustrado, pensando em como seria a vida se tivesse sido piloto. Até onde um sonho é um sonho ou uma obsessão, uma teimosia? Até onde devemos seguir e quando é a hora de parar? Perguntas intrigantes sem respostas definidas.

Há uma cena marcante em que Herbert hoje assiste a um vídeo em que ele mesmo, nos seus 20 e poucos anos diz mais ou menos assim: “Não há nada que eu sinta que eu não possa fazer. E se um dia algo acontecesse e mudasse a minha vida de forma radical, eu começaria tudo de novo, do zero...”. E, inevitavelmente, me veio à mente a frase: “Cuidado com o que você deseja”. A vida dele virou do avesso e como prometido, mesmo cheio de limitações e dores, ele recomeçou apoiado no afeto das pessoas e em seu amor pela música. Um cara de garra e de fé.

Herbert, de longe, é um personagem notável. Possui uma forma singular de elaborar seus pensamentos e de acreditar em sua conexão metafísica com o universo. No mínimo, um cara interessante de se ouvir.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Dupla Implacável.

Me parece que depois de seu longa “Busca Implacável”, vai virar tendência os filmes de Pierre Morel serem implacáveis, mesmo que na realidade não sejam tanto assim. “Dupla Implacável” não é um filme com um protagonista obcecado por justiça ou por vingança que vai às últimas consequências para atingir seus objetivos. Definitivamente, não!

Sabe o cara careca de cavanhaque? Por incrível que pareça, é o John Travolta. Bom, para levar John Travolta na pele do espião americano Charlie Wax à Paris e não ficar parecendo que ele está varrendo gangues no Brooklin, radicalizaram no visual do ator, deixando apenas um pouco do senso de humor pretensioso americano, a dose certa pra ser divertido em Paris. Inclusive, o cinema americano deveria adotar essa dosagem, porque o excesso de pretensão no senso de humor deles é irritante.

Falando em trilha sonora, essa é boa, introduzindo o espectador à história com uma música charmosa francesa logo na primeira sequência do filme - você está em Paris, tá? -, seguindo pela projeção com sons mais pesados eletrônicos e o bom Rock’ n roll nas cenas de mais ação.

Charlie Wax (John Travolta ) chega à Paris para fazer uma parceria com o personagem engravatado e poliglota James Reece, vivido por Jonathan Rhys-Meyers, numa missão em prol da defesa da embaixada americana contra o terrorismo paquistanês. Wax é o cara da ação - como mestre Miyagi ensinou ”Wax on, Wax off” -, aquele que resolve tudo no tiro e no braço no melhor estilo 80’s, equipado com apetrechos tecnológicos do século XXI. James Reece é um agente infiltrado na Embaixada Americana que almeja ser promovido a Charlie Wax, coitado… A parceria entre os dois é no mínimo curiosa, o não menos clássico o-cara-que-pensa-e-o-cara-que-bate, embora, ao longo da projeção, ambos os personagens vão mostrando que são um pouquinho mais complexos. Só um pouquinho. Aquela profundidade que satisfaz um filme de ação.

Aliás, voltando ao título… O filme nem é “De Paris com Amor” - que título é esse?! - (From Paris With Love), nem “Dupla Implacável”. É um filme com uma boa dose de tensão que intercala boas cenas de ação - embora o recurso bullet time-Matrix usado não se encaixe no perfil do filme -, com destaque para a cena da escada em que Wax vai “limpando” o caminho para Reece subir, ótima! O roteiro não é escandalosamente óbvio a ponto de ofender o senso crítico dos menos adeptos a filmes de ação e certamente agrada àqueles que gostam de tensão, ação e umas reviravoltas na história. Mas, como um filme de ação que se preze, tem sua escorregada americana-melodramática no final, como se o longa se explicasse: “Sou um filme de ação, mas também tenho sentimentos”. Está bem, a gente acredita.

E não, não vou contar detalhes da história, senão estragaria o que há de interessante no roteiro. Filmes de ação são assim, se você conta demais, sobra só um monte de cenas de ação. Quem não curte muito esse gênero vai conseguir se divertir. Aqueles que curtem o gênero, preparem-se para ver um pouco mais que ação.


Também no: http://portalplustv.com.br/portal/cinema/critica-dupla-implacavel/