quinta-feira, 5 de novembro de 2009

“Te amarei para sempre” e “Terra de Sonhos”



Dois filmes que falam de amor incondicional, de maneira encantadora e com uma beleza rara, humana. E também de perdas. Dois filmes emocionantes, com personagens que cativam das cenas mais simples as mais impactantes.
Em “Te amarei para sempre”, Henry e Claire são um casal conectado e separado pelo tempo. Henry nunca sabe quanto tempo pode ficar, quando vai desaparecer e surgir num outro ano, em outro lugar, sempre atraído a acontecimentos importantes da sua vida. Um viajante do tempo que se desmaterializa diante dos olhos apaixonados de Claire, tão verdadeiro e tão impalpável como o próprio sentimento que os une. O amor entre eles surge entrelaçado nas linhas do tempo, sem linearidade, sem uma história de passado, presente e futuro pra contar. Eles se amam. Não importa como ou quando e eles tem a certeza que nunca deixarão de se amar. A história nos leva a refletir sobre nossos sentimentos e as vezes que deixamos de viver o amor com medo de sofrer e acabamos por sofrer do vazio que isso proporciona. Porque amar não é uma escolha, acontece, como diz Claire numa cena do filme.
“Terra de Sonhos” encanta com o mesmo tipo de amor inabalável que une o casal Johny e Sarah e suas duas filhas Christy e Ariel. Eles emigram para os EUA na tentativa de recomeçar a vida após uma tragédia pessoal e são tão absurdamente harmoniosos e criativos que nos convencem que é possível ser feliz em qualquer lugar, de qualquer jeito. A pequena Ariel é a criatura mais fofa que já vi num filme, e ao mesmo tempo que parece sempre encantada com tudo, mostra-se muito sensível ao distanciamento emocional que o pai criou desde o evento que fez a família partir. Christy sempre silenciosa munida com sua câmera intriga e emociona. O vizinho africano que pinta quadros com a fúria dos que sabem a importância do que se tem pra perder na vida...Ele é apaixonado por tudo que é vivo e logo se apaixona por essa família também e a família aumenta. O filme fala de perdas sim, mas baseado nas perdas, a história nos mostra os ganhos com uma dimensão mágica e a vida parece ser muito mais incrível do que costumamos achar. Afinal, como diz um dos personagens, nós nunca estamos satisfeitos com o que temos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dez verdades sobre Bastardos Inglórios:


1- Não é uma obra-prima, longe disso;

2- Tem dois momentos de obra-prima: o início e o fim;

3- Os diálogos são complexos, tensos e exaustivos;

4- Christoph Waltz como Hans Landa é uma obra-prima;

5- O filme quebra um mito de que os Judeus eram passivos e pobres-coitados, o que é surpreendente;

6- A fotografia é incrível, copiada dos filmes do diretor Brian de Palma;

7- Brad Pitt novamente retoma seu talento para personagens caricatos e engraçados, visto em "12 macacos" e "Queime depois de ler";

8- O filme poderia ter apenas 1h e 40min;

9- Tarantino precisa entender que, quando é apenas Tarantino, como em Kill Bill 01, é gênial!

10- O que menos se vê no filme, pena, são os próprios Bastardos Inglórios!

Alexandre soma
http://www.cromossoma.com.br/

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Simplesmente, não vi Clarisse.



Já é a segunda vez que tento assistir à peça da Clarice Lispector e não consigo. Na primeira vez, minhas quatro amigas_ numa conjunção astrológica obviamente desfavorável a mim_ me deram bolo (nutricionista é fogo!). Eu lá no CCBB, sozinha e gripada dei meia-volta e fui pra casa. Nesses dias em que tudo vai contra minhas pretensões, acho o aconchego do meu lar o lugar mais seguro para se estar. Mesmo porque, esses dias costumam ser aqueles em que algum carro te dá um banho de lama ou você é o único assaltado num ônibus cheio.

Ontem, mais uma vez, marcamos as 4. Todas compareceram (ufa!) e, desta vez, ao invés de levar bolo, eu comi um de chocolate delicioso. Ficamos no café do Paço fazendo planos para o caso do mundo acabar em 2012. Papo muito doido... Aliás, ninguém pensou nisso quando decidiu fazer as olimpíadas aqui em 2016. Vamos combinar que é importante o Rio ainda existir para que aconteçam os jogos... Baboseiras à parte, perdemos tanto tempo rindo disso que esquecemos de comprar ingresso pra peça! Duas do quarteto foram embora (as casadas) e as solteiras foram pro CCBB faltando 1h pra peça começar. Claro que no lugar de ingressos, havia vagas disponíveis na fila de espera de 30 pessoas. Esquece. Não é pra ser... Clarisse, querida, vou ficar com os livros!

Lembramos que o Festival do Rio ainda não havia terminado e, já que estávamos no centro, resolvemos conferir o que estava rolando no Odeon. Não custa nada... E não custou mesmo! Assim que paramos em frente à bilheteria, um rapaz simpático nos ofereceu um convite duplo para entrar no cinema. Ele havia ganho o convite, mas não poderia ficar. Aaaaahhhh, isso sim é sorte! Eu que estava gripada de novo (será que tenho alergia à Clarisse?!), nem reparei que o senhor que nos conduziu para o andar superior do cinema era da organização do evento, ele estava trabalhando na promoção de um dos filmes. De repente, ele senta na poltrona atrás de mim e nos pergunta:

_ Vocês vieram assistir “O príncipe encantado?”. E eu:

_ Não. Na verdade, nós estávamos paradas em frente ao cinema e ganhamos o ingresso. Nós não sabemos nada dos filmes.

Minha amiga caiu na gargalhada e o cara, rindo, me disse:

_ Você é bem cara de pau, hein...

Eu fiquei rindo, na minha lerdisse gripal, e só depois entendi a dimensão da piada. Ficar andando por aí com febre deixa a gente meio sequelada mesmo.

“O príncipe encantado” é um curta de Sérgio Machado, o mesmo de “Cidade baixa” . Apesar de ter perdido a parte inicial da história, gostei da versão prostituta-matadordealuguel de happy end. Uma visão realista, bastante humana e interessante de contos de fadas. Comovente.

O “Antes que o mundo acabe”, de Ana Luíza Azevedo, me pegou de surpresa. É a história de um adolescente do interior do Sul do Brasil que tem um pai morando na Tailândia, uma namorada linda e um melhor amigo. Ele se divide entre o triângulo amoroso e a curiosidade sobre o pai que ele nunca conheceu. Destaque pro padrasto gente boa e para irmãzinha bisbilhoteira que arranca do público algumas gargalhadas. A história é singela e criativa. Sai do cinema com um sorriso no rosto. Senti saudades da minha adolescência...

Não deu pra esticar o sábado à noite. A cama e o anti-gripal me chamavam...


“Se nada mais der certo”, “Salve Geral”.


Mais uma vez falo de mais de um filme, porque vi nos dois semelhanças importantes e diferenças interessantes.

“Salve geral” é um comando que funciona como gatilho coletivo disparado por aqueles que representam os criminosos no dito filme, espalhando terror pela cidade de SP e medindo forças com o estado. Esse conjunto de detentos interligados por celulares se organizaram para reivindicar melhores condições carcerárias_ pelo menos é o argumento ideológico deles. E para manter os negócios, comandam o tráfico de drogas, armas etc. A violência os levou para a prisão, os mantém na prisão e os liberta também. E a corrupção é o óleo lubrificante dessa engrenagem. No filme, é difícil saber quem é mocinho e quem é bandido, o que acho positivo e mais real do que dividir o mundo entre o bem e o mal. A vida não é novela. As pessoas são mais complexas e imprevisíveis.

Apesar de tratar de um assunto importante, esse olhar amplo não é dos que mais me empolgam. Talvez porque eu prefira quando o diretor usa a câmera mais perto das pessoas e mais longe do ambiente como um todo. Em “Se nada mais der certo”, por exemplo, vemos também pessoas comuns se envolvendo com armas, drogas e dinheiro sujo, mas o olhar é bem mais humano. As cores são quentes, por vezes até muito escuras, o que me deu a sensação de sufocamento que os personagens experimentavam. Ouvi-los surrar seus anseios, ver os poros da pele transpirando depois de correr desesperado, acompanhar o medo dos personagens pelo som da respiração ofegante... E o amor, porque não, permeando toda aquela história tão íntima e sofrida. Eu me envolvi com os personagens, acreditei que eram reais. Desconectei da realidade e permaneci durante todo o tempo de projeção imersa na história daquelas pessoas. O que não aconteceu com o “Salve Geral”.

Talvez abrir demais o ângulo da câmera me remeta a uma falta de intimidade com os personagens, tornando-os fictícios demais, me distanciando da importância dos sentimentos deles e me remetendo cruamente aos fatos narrados. Eu não vou ao cinema para assistir noticiário.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Você foi um doce desatino.



Noutro dia conversava com um cinéfilo e relembrei como é bom trocar ideias com alguém que compartilha comigo o amor pelo cinema. Porque criaturas da espécie cinefilus incorrigives se realizam quando podem falar livremente sem precisar explicar quem é o diretor tal, a importância da fotografia, do enquadramento, qual o estilo de determinado cineasta... Nós, cinéfilos, parecemos que fizemos a mesma faculdade e quando conversamos é como se estivessemos num congresso onde deixamos nossas impressões sobre as novidades e adquirimos mais bagagem pra seguir nossa viagem cinematográfica eterna. Em se tratando do meu amor pelo cinema, eu acredito no “felizes para sempre”.
Então, o mesmo cinéfilo em questão me fez uma pergunta muito pertinente: “Por que você não tem um blog de cinema?”. Boa pergunta. Nem eu soube responder. Preferi pensar numa maneira interessante de começar um. O Cassiano me deu a ideia do blog e do nome e deixo aqui seu devido crédito (http://museudocinema.blogspot.com/).

Você foi o mais doce desatino.
Um romance desvairado!
Um finito sem destino.
Um sem fim desacreditado...

Inspirada pelos versos acima, resolvi começar meu roteiro pessoal não por um filme específico, mas por um tema que me sensibilizou recentemente: o amor entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem. Destaco três filmes “E sua mãe também”, “O leitor” e “Segunda Chance”, pela delicadeza e lirismo com que abordam o tema.

Tempo injusto, severo.
Tempo que divide o tempo.
Você, uma metade.
Eu, inteira o tempo.
Minutos passeiam por você.
Horas me atropelam.
Sou condenada do tempo.
Você, dele sagrado.

Novos desenhos
Ele traça no meu rosto.
Outra geometria
Ele cria no seu.
Revela meu corpo exuberante.
O seu, a todo instante mutante.

Seus olhos de mel, magnéticos.
Tão doces como o pecado.
Fazem par com seu sorriso.
Generoso e iluminado.

Em seus cachos macios,
semelhantes aos meus.
Minhas mãos me condenam
Aos encantos seus...

Em seu gosto.
de esquecer o mundo.
Eu saboreio a vida.
Como posso
este caminho
me negar a ida?

Resistir ou não? Deixar-se envolver sem se importar com o mundo? Trata-se de uma questão delicada. A relação entre uma mulher experiente e um homem jovem não é bem vista e tão pouco aceita pela sociedade. Por isso mesmo, os três filmes utilizam a mulher mais velha como uma figura madura, porém desiludida ou amargurada e carente, enxergando no jovem uma possibilidade de renascimento e resgate da inocência. O “garoto” é visto como a fonte da juventude e a mulher como a mestra que o conduz num universo novo de prazeres e afetividade. Mas, os contratempos da diferença de idade costumam superar esse amor desacreditado pelos outros e, às vezes, até mesmo pelos amantes. Mesmo assim, o mais jovem costuma fantasiar a eternitude da relação, como faz o personagem David Kross em “O leitor” (trecho abaixo) e, às vezes, a inocência da intenção acaba mesmo levando a uma perspectiva de final feliz.

Eu não tenho medo. Não tenho medo de nada. Quanto mais eu sofro, mais eu amo. O perigo só fará crescer o meu amor. Ele o afiará, perdoará o preconceito. Serei o único anjo de que você precisa. Você deixará a vida ainda mais bonita do que quando entrou. O céu a levará de volta, olhará pra você e dirá: somente uma coisa pode nos completar. E essa coisa é o amor."

Certo ou errado, apropriado ou não, nossas experiências de vida e as belas histórias desses filmes vem nos mostrar que os sentimentos não seguem uma cronologia. Trocar experiência por inocência e receptividade pode ser lindo e enriquecedor para ambos. Isso vai depender de como cada pessoa vivencia essa troca e a disposição para bancar o que se deseja de verdade. No fim das contas, o que vale mesmo é tentar ser feliz.